segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Salvação


O texto de Jorge Luís Borges Emanuel Swedenborg (Borges, Oral - 1979) sintetiza um tríptico salvífico: a salvação pela ética, a mais implantada, em especial, no cultura judaico-cristã; a salvação pelo intelecto, desenvolvida por Swedenborg; e a salvação pela arte, expressa por Blake. Estes três estágios - ou condições de possibilidade - resumem todo o processo evolutivo do ser humano, a capacidade de ultrapassar os limites que ele mesmo impôs. A estes caminhos de redenção acrescentar-se-ia um, que é quiçá a síntese desse três, a salvação pelo mistério. Esta forma de revelação inicia-se pela aceitação e demanda de uma Gnosis, a qual permite o acesso aos mistérios que erguem o último e derradeiro véu de Sophia.


Borges, Jorge Luís, "Emanuel Swedenborg", Borges, Oral (1979), Obras Completas IV, pp. 188-97. Lisboa: Editorial Teorema, 1999.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Portugal: A Necessidade de um Líder na forma de Arauto

A facto de Portugal ter vivido, durante longas décadas, mergulhado numa ditadura fez com que muitos dos portugueses não sejam capazes de ultrapassar o complexo do salvador da pátria, do arauto idealizado. Vemos, por toda a parte, esse fascínio que é próprio de um regime totalitário. Elegem-se, de uma forma quase aleatória, todos os tipos de arautos. Temos figuras dos media elevadas a um patamar sobre-humano. Temos as opiniões dos comentadores políticos e económicos que se constituem como dogmas orientadores de uma forma não-crítica de consciência. Temos políticos que, em certos momentos da história actual, se afirmam como timoneiros dos destinos deste país. E a maioria dos portugueses o que fazem? Deixam-se levar por esta forma de apatia. É melhor ter outros a decidir por nós. São estes os resquícios de um vento bafiento que nos arrasta para trás. Portugal ainda tem um longo caminho pela frente para conseguir consolidar a democracia. Uma consciência crítica é a única coisa que nos pode salvar nestes tempos sombrios.   

A Oração de Dante



Loreena McKennitt, Dante's Prayer. Fonte: You Tube

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sugestão de Leitura: Maria Teresa Horta - "A Dama e o Unicórnio"


Lançamento a 29 de Outubro

Maria Teresa Horta, A Dama e o Unicórnio - Livro c/CD (Sonata Profana de António Sousa Dias e Poemas ditos por Ana Brandão). Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2013. Páginas: 152. Preço: 25,00€.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Fragmento é Semente - VIII

A Esperança é como o Colosso de Rodes. Firma-se, de um lado, no Momento e, do outro, na Oportunidade. E o Tempo é o mar que por ele passa. 


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Da Universalidade da Pose

"Em todas as profissões cada um afecta uma pose conveniente ao que quer parecer. Desta feita, pode dizer-se que o mundo é feito de poses."

La Rochefoucauld, François de, "Máxima 257", Máximas e Reflexões Morais. Tradução Raúl Mesquita. Lisboa: Edições Sílabo, 2008.


Mais do que a consciência de quem verdadeiramente somos, as máscaras que colocamos redefinem a nossa identidade e a nossa expressão no mundo. Construímos uma pose, uma aparência, que se adequa a cada situação e à necessidade do momento. Somos construtores de aparências, criadores de imagens, daí que exista tanta dificuldade em descobrir quem somos. As máscaras fixam-se no rosto e a sombra sobe por nós. A consciência de si desvanece e nós tornamos-nos numa ilusão, numa miragem do que outrora foi - ou podia ser - uma identidade. O que somos é então um reflexo no espelho e essa imagem varia conforme o tipo de espelho, isto é, com a circunstância. Seja no trabalho, num relacionamento, com a família, com os amigos ou com desconhecidos a nossa pose muda, adopta-se ao que mais lhe convém. A cada dia que passa, o tempo estilhaça a identidade, a consciência de si e pode chegar o momento em que ninguém sabe quem é.            

sábado, 12 de outubro de 2013

Da Cultura à Ignorância

A cultura tornou-se uma arma de propaganda, pessoal e colectiva. Deixou de ser importante cultivá-la, possuí-la, o que importante é parecer ter uma imagem culta, mostrar interesse, preocupação. Os governos reservam à cultura uma parte miserável do seu orçamento, mas dizem sempre que lamentam não poder fazer mais. Não é possível. As contas públicas. A dívida. Outras necessidades. Existe sempre um razão. E, assim, perdemos o progresso, somos impedidos de evoluir. Ficamos com uma educação sem cultura, com uma classe política inculta e com uma sociedade alienada face ao valor da sabedoria. 

Os únicos que podiam contrariar essa tendência estão no limiar de um processo deliberado de extinção. A elite cultural, os criadores, os artistas, os pensadores são forçados a atravessar o percurso que leva ao exílio, simplesmente, porque são incómodos. O seu ethos contraria um modo de viver em que tudo está pré-estabelecido. Não convém que existam pessoas que coloquem em causa as convenções, as normas, as aparências e os vícios. Não seria conveniente que estas pessoas desmascarassem a ignorância dos falsos arautos. Essas vozes simoníacas que rompem o juízo de um povo desinteressado. 

Vivemos, actualmente, num novo regime totalitário, um à escala mundial, e, neste regime, o grande ditador é a Ignorância.     

Saber de Cor

Estamos progressivamente a perder a noção de saber de cor. Deduzimos que este conceito assentava apenas num esforço mnemónico, mas ignorámos que o saber de cor indica uma sabedoria apreendida pelo coração, tal como a etimologia latina indica. Esta forma de saber adquire um carácter gnoseológico, no sentido da verdadeira gnose, ou seja, um conhecimento elevado e intimista, uma sabedoria superior alcançada por intermédio do intelecto, da inteligência ou da intuição. É um processo noético, uma viagem, um itinerário entre a alma e a sabedoria. 

O ser humano perdeu esta capacidade de saber com o coração, de sentir, em todo o seu ser, a sabedoria. Na sociedade contemporânea, a sabedoria deu lugar à técnica e esta não se adquire mediante um saber de cor, mas sim através de uma lógica funcional e utilitária. A Sabedoria e o saber de cor precisam de renascer. O humano carece de valores que o elevem e que o afastem do abismo da mediocridade e da ignorância.     

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Do Romance ao Fragmento

A decadência do romance clássico reanimou o fragmento. O mundo já não pode ser visto com os mesmos olhos. A totalidade já não se consegue expressar directamente num texto. O humano deixou de exclamar, prefere agora sugerir, deixar que a totalidade se exprima na parte, no estilhaço da existência.

O Fragmento é Semente - VI

O som do mundo nasce da sensação e o pensamento do seu silêncio.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A Divina Comédia de Dante através das Gravuras de Gustave Doré


Vídeo You Tube

Para onde vamos? Democracia a Quanto Obrigas!

Le Nouvel Observateur publicou uma sondagem para as próximas eleições europeias francesas. Nessa sondagem, o partido de Marine Le Pen, Frente Nacional, venceria as eleições com 24% dos votos. Depois do caso grego, onde os neo-nazis da Aurora Dourada ganham uma expressão preocupante e movimentam-se com uma acção que não pode ser tolerada numa Europa democrática, temos agora o avanço da extrema-direita francesa. A França, um país que foi ocupado pela Alemanha Nazi, vê-se a braços com uma proliferação de ideias intolerantes, xenófobas e anti-democráticas.
 
Nós, no nosso pequeno país, assistimos a propaganda peculiar, com uma ideologia que de democrática tem muito pouco, contra o Tribunal Constitucional. Segundo essas teses demagógicas que se alastram até ao seio da União Europeia, o TC é um tribunal activista, incapaz de auxiliar o Governo na sua nobre cruzada. A grande questão é sabermos para onde vamos. Estará a memória colectiva estilhaçada por alguma doença degenerativa, onde as recordações, ainda frescas, das ditaduras europeias se esfumam nos palácios da memória? Estará a existência humana escrita num tempo de eterno retorno, cíclico, em que os erros do passado não servem de lição, mas estão inscritos numa sistema de repetição? Será que queremos voltar aquilo que ainda ontem temíamos? Estará Abril tão longe da memória?

Não nos podemos iludir, pois se não tivermos o devido cuidado, caminhámos para o enfraquecimento e quiçá anulação de todos esforços democráticos.      

Prémio Nobel da Literatura 2013: Alice Munro


Alice Munro nasceu a 10 de Julho de 1931, em Wingham, Ontario, Canadá. A autora de 82 anos foi considerada pela Academia como "mestre do conto contemporâneo".  Foi distinguida, em 2009, com o Man Booker Internartional Prize. Agora, para além de vários prémios literários, vê-se inscrita na lista do mais alto galardão da literatura. 

Em Portugal, é esta a sua bibliografia:

 2013

2011

 2010

2009 

2008

2007

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Do Enigma à Revelação: Uma Proposta

Vivemos numa sociedade que adora o concreto, o evidente, mesmo que seja só uma aparência de certeza. Não existe um espaço suficiente para a especulação e para a demanda de uma ideia, isto porque não sabemos aquilo que procuramos, deixamos que tudo venha ter connosco. Gostamos de axiomas, previamente estabelecidos, e evitamos o caminho que vai do enigma à revelação, essa maravilhosa descoberta que é o indefinido, o indeterminado, a verdadeira origem da realidade. Consideramos a técnica como certa e a ciência como absoluta e vivemos com tudo padronizado, com tudo estabelecido. Perdemos a capacidade de questionar e de duvidar. Preferimos aquilo é cómodo, que não muda. Porém, só quando o elemento indeterminado regressar às nossas vidas é que podemos saber quem verdadeiramente somos.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Uma Estante de Livros: Entre a Possibilidade e a Necessidade

Uma estante de livros conserva sempre um estado de descoberta. Seja numa livraria, numa biblioteca ou numa casa particular, a estante de livros representa uma dinâmica de possibilidade. É uma proposta de eleição, onde os candidatos à leitura se apresentam e revelam a sua intenção. A escolha de um ou mais livros oscila entre o acaso e a necessidade. O livro chama-nos, escolhe-nos, foge da sua morte para viver em nós. Somos o produto dessa escolha, o realizar da interacção entre o livro e o leitor. Qual é a razão de escolhermos aquele livro e não outro? Foi o título? O resumo? O excerto? O Autor? A capa? A encadernação? Uma referência de terceiros? Uma disposição da personalidade? Qual foi a motivação? Existira um bibliotecário, num plano superior, que nos atribui uma leitura em consonância com a necessidade do momento? Existira um plano de leitura com uma função de didáctica existencial? Ou será tudo aleatório?  
A leitura é electiva, porém, o que nos escapa é o sentido dessa eleição. O tempo limita a leitura, mas não anula a possibilidade. Aquele livro que nos marcou chegou-nos, por vezes, de forma inesperada e esse cunho de sentido trilha um caminho entre a possibilidade e a necessidade. 

sábado, 5 de outubro de 2013

Da Ignorância - II

De facto, como se concluiu anteriormente, a Ignorância é o pior dos males, quer seja pela imposição de uma estado - ignorância passiva -, quer seja por uma vontade deliberada - ignorância activa. A rejeição de uma demanda da sabedoria e de um fomento das condições necessárias para o conhecimento representam sempre um verdadeiro "mal-estar da civilização".

Podemos dizer, num estilo metafórico, que da Ignorância nasceram dois filhos, dois gémeos inseparáveis, a Ilusão e o Engano. Da Ilusão, podemos distinguir também dois tipos: a que provém do exterior e a que nasce no interior. A primeira conduz a um estado de alienação, de indiferenciação com o mundo que nos rodeia. Esta revela-se como uma manipulação, consciente ou inconsciente, da realidade. A segunda gera um estado auto-induzido de esquizofrenia antropológica. O humano perde a consciência de si e rompe o laço da sua verdadeira natureza. Em síntese, o ser anula-se a si mesmo. 

O Engano devemos, em primeira análise, distingui-lo do pecado, uma vez que o seu sentido tem uma maior afinidade com a noção grega de amartía que, na etimologia arcaica, indica o acto de falhar o alvo. A flecha erra o seu destino, a sua finalidade. Porém, o Engano não anula a possibilidade, a redenção. Devemos, portante, inseri-lo numa perspectiva didáctica, a qual só se torna possível se estiver vinculada à Vontade, Vontade esta que está orientada no caminho da Sabedoria. Só assim o Engano poder-se-á libertar das teias da Ignorância e da Ilusão.

A Ignorância, a Ilusão e o Engano representam a trindade do mal que é a oposição e o contraste da verdadeira Trindade. As três manifestações do Uno, do Indeterminado são a Vontade, a Sabedoria e o Amor.   


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Da Ignorância

A Ignorância é o pior dos males, espalha-se como uma doença e persiste como uma epidemia. No entanto, temos de distinguir entre a ignorância passiva e a ignorância activa. 

A primeira existe porque a um determinado ser humano não foram dadas as condições essenciais para o seu desenvolvimento, para o crescimento da sua esfera de conhecimentos, quer seja por condicionamentos pessoais, ou por vicissitudes externas. A segunda resulta de uma vontade consciente e deliberada de permanecer na ignorância. Esta, infelizmente, é a tipologia que mais se alastra, chegando até a fazer propaganda do seu estágio habilmente cultivado.  

O primeiro tipo de ignorância resolve-se, ou minimiza-se, com uma acesso universal à cultura e ao conhecimento, o que só é possível com uma melhoria das condições económico-sociais. Engana-se quem pensa que é no seio da pobreza que um cidadão pode alcançar todo o seu potencial. Numa sociedade subdesenvolvida, com grandes carências democráticas, a ignorância e o seu fomento são imperativos. 

Já o segundo tipo é muito difícil de extrair de uma sociedade, pois este está entranhado nas vísceras da civilização. Nesta patologia, sim porque é disso que se trata, existe um problema da vontade, uma doença do espírito e uma atrofia do ser. Esta enfermidade humana apela para mediocridade e assenta numa total e radical anulação da potencialidade humana. A ignorância activa faz-nos repensar o humano e duvidar da nossa real natureza. 

Porém, sem a sabedoria como fim, nem animais conseguimos ser.  

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Fragmento é Semente - V

Rejeitar o acto de votar é uma negação da democracia. A abstenção mina a legitimidade dos eleitos e destrói a sustentação do regime. Sem voto, a democracia é uma ilusão.